Azul, azul, azul, o mar
fraqueja
Em orlas brancas pela
praia fora.
Só esse som, alegre e
antigo, rumoreja
No lúcido silêncio desta
hora.
O mais, - quietude, e no
horizonte ralo
Um nevoeiro ou bruma ou
ilusão
Que é como que um inútil
intervalo
Do amplo azul que céu e
águas são.
Sossega em mim, de ver,
de ver, de ver,
Essa intranquilidade, a
mágoa antiga
Que vem de se sentir
viver,
Que vem de não poder
querer
E de não ter uma alma
nossa amiga.
Ah, mas essa dor,
Cheia de consciência do
mutável
Da pobreza da vida e do
amor
É tão antiga como o mar
E tem marés,
Cessa para recomeçar
Mais uma vez.
FERNANDO PESSOA, 9 DE
ABRIL DE 1935
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