AS ILHAS AFORTUNADAS
Que voz vem no som das
ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que
nos fala,
Mas que, se escutamos,
cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir
ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir
sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter
lugar,
Onde o Rei mora
esperando.
Mas, se vamos
despertando,
Cala a voz, e há só o
mar.
FERNANDO PESSOA, 26 DE
MARÇO DE 1934
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