Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exactos
Basta para
podermos
Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos brincando, pra que nos não tome
Do pulso, e nos
arraste.
E vivamos assim,
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidas como
água
Em taças
detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas
carícias
Dos instantes
volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
Scolhermos do que
fomos
O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas, formos
Vultos solenes de repente antigos,
E casa vez mais
sombras
Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
E o regaço
insaciável
Da pátria de
Plutão.
RICARDO REIS, 16 DE JUNHO DE 1914
Sem comentários:
Enviar um comentário