domingo, 16 de junho de 2013

FAZ HOJE 99 ANOS




Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exactos
        Basta para podermos
        Achar a vida leve.

De todo o esforço seguremos quedas
As mãos brincando, pra que nos não tome
        Do pulso, e nos arraste.
        E vivamos assim,

Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
        Translúcidas como água
        Em taças detalhadas,

Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
        E as rápidas carícias
        Dos instantes volúveis.

Pouco tão pouco pesará nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
        Scolhermos do que fomos
        O melhor pra lembrar

Quando, acabados pelas Parcas, formos
Vultos solenes de repente antigos,
         E casa vez mais sombras
        Ao encontro fatal

Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
        E o regaço insaciável
        Da pátria de Plutão.


RICARDO REIS, 16 DE JUNHO DE 1914

Sem comentários: