sábado, 22 de junho de 2013

FAZ HOJE 101 ANOS




A minha alma ajoelha ante o mistério 
Da sua íntima essência e próprio ser, 
Faz altar do sentido de viver 
E cálice e hóstia do seu grave e etéreo 

Senso de se iludir… Corpo funéreo 
Doente da vida. Alma a aborrecer 
O que nela é do corpo... Vida a arder 
Tédio, e as sombras são seu fumo aéreo. 

Sombra de sonho... Hálito de mágoa...
Alma corpo de Deus, disperso e frio 
Boiando sobre a morte como em água... 

Indecisão... Penumbra do pensar. 
Fonte oculta tornada claro rio... 
Rio morrendo-se no imenso mar... 



FERNANDO PESSOA, 22 DE JUNHO DE 1912 

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