A minha alma ajoelha ante o mistério
Da sua íntima essência e próprio ser,
Faz altar do sentido de viver
E cálice e hóstia do seu grave e etéreo
Senso de se iludir… Corpo funéreo
Doente da vida. Alma a aborrecer
O que nela é do corpo... Vida a arder
Tédio, e as sombras são seu fumo aéreo.
Sombra de sonho... Hálito de mágoa...
Alma corpo de Deus, disperso e frio
Boiando sobre a morte como em água...
Indecisão... Penumbra do pensar.
Fonte oculta tornada claro rio...
Rio morrendo-se no imenso mar...
FERNANDO PESSOA, 22 DE JUNHO DE 1912
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