Não, não é esta astúcia do luar,
Nem este aroma vindo, ou do
arvoredo,
Ou das flores que entre ele
desfolhar
Um vento incerto e quedo,
Que há-de arrancar-me o meu segredo.
Sim, tudo isso, traduzido na alma,
É uma figura inteira de mulher
Que acaricia, perigosa e calma,
É um oásis longínquo, alvor de
palma,
É o que toda a gente quer.
Mas não saio do meu assombro
De quem ouviu os astros a cantar
E isso me vela e inibe.
É tudo o amor: visão, mulher,
palmar.
Mas vou a ver e toca-me no ombro,
Para eu p'ra trás olhar
O Mestre que consola e que proíbe.
FERNANDO PESSOA, 20 DE SETEMBRO DE
1934
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