sábado, 18 de abril de 2015

POEMA SEM DATA



Quase sem querer (se o soubéssemos!) os grandes homens saindo dos homens vulgares
O sargento acaba imperador por transições imperceptíveis
Em que se vai misturando
O conseguimento com o sonho do que se consegue a seguir
E o caminho vai por degraus visíveis, depressa.
Ai dos que desde o principio vêem o fim!
Ai dos que aspiram a saltar a escada!
O conquistador de todos os impérios foi sempre ajudante de guarda-livros
A amante de todos os reis - mesmo dos já mortos - é mãe séria e carinhosa,
Se assim como vejo os corpos por fora, visse as almas por dentro.

Ah, que penitenciaria os Anjos!
Que manicómio o sentido da vida!

ÁLVARO DE CAMPOS, POEMA SEM DATA


Sem comentários: