SONETO
Tudo quanto é beleza tu conténs
E quanto de amor há, que o tem nela,
No indefinido sentimento dela:
Tudo isso há em ti, tu és e manténs.
A vida com seu vago (...) bens
E o mundo de consciência que revela
Tudo se inclui em ti, inda que se
vela
O não poder-te ter, tudo que tens.
Amo-te por amar-te desprezando-me
E o meu desprezo fere o meu amor
Dum sentimento tão total de dor
Que a dor pode ser um sentimento,
dando-me
Mais sentir faz-me mais sentir no
querer-te
No não poder querer poder obter-te.
FERNANDO PESSOA, 11 DE FEVEREIRO DE
1912
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