quinta-feira, 26 de setembro de 2013

FAZ HOJE 99 ANOS




A MÚMIA

IV

Único sob as luzes 
E Pã entre sombras de árvores 
Toca que flauta? Nenhuma 
São o que eu sonho as avenas 
E flores grandes monótonas 
Boiando em mortos tanques 
As grades iguais que contornam 
A entrada para o palácio... 

Portões para cidades desertas 
As Horas colares de pedras falsas 
E tudo numa só cavalgada para o excesso de mim 
Entre altos ramos. 



Toda orquídea a minha consciência de mim 
E entre espezinhamentos de púrpuras 
Os séquitos abandonaram os Reis 
Porque, escorrendo-me entre sonhos de parapeito 
Sobre ermas planícies de arvoredos e rios 
As mãos cruzadas sobre o peito 
E o gesto parado de não querer nada 
Salvo (um relógio distante dando horas) 
A sorte morta a cores de vitrais esquecidos.


FERNANDO PESSOA, 26 DE SETEMBRO DE 1914

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