terça-feira, 3 de setembro de 2013

FAZ HOJE 103 ANOS




A UMA ESTÁTUA

Eterno momento, ó gesto imorredouro
Ó da expresão de um desejar vida local;
Tornam-se terra o olhar azul e o cabelo louro
E tu és imortal.

Sempre no gesto teu de desejando
Sempre no meio eterno dum trair
Um sentimento, no desabrochando
Para nunca se abrir.

Incontinuada vida manifesta
Esperando o eterno ausente teu amor.
Perto do teu momento, mas que resta
Sempre longe, e sem dor.

Terás tu um sentir invital, como alheio
Ao teu lugar de ser no espaço, ali?
Será alguma cousa alma o teu marmóreo anseio
No seu eterno aqui?

Tu não tens corpo, não tens vida, não tens alma
Na outra realidade que a de ser;
Mas o que é ser, ó branca imagem calma?
O que é aparecer?

Será que tens uma alma e que essa alma está longe
Do teu corpo exilado no lugar da ilusão
O que és tu, visto que és? Beleza exul e monge
Na nossa imperfeição.



FERNANDO PESSOA, 3 DE SETEMBRO DE 1910

Sem comentários: