Quem sabe se o que pensamos
Não é só o que esquecemos.
Vamos, remando, sob ramos
Do rio, assentes nos remos;
E uma visão mais remota
Que as margens e o arvoredo
Torce sem querer a rota
Que se seguia em segredo.
Cada rio tem dois rios,
Por um íamos remando
Sem atenção nem desvios,
Contentes de ir avançando.
Mas quando tristes e quedos,
Íamos remando a fio,
Sentimos que os arvoredos
Cobriam um outro rio.
FERNANDO PESSOA, 26 DE JULHO DE 1934
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