quinta-feira, 6 de julho de 2017

FAZ HOJE 103 ANOS



Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor...
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu não mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim.
Por tu existires veja-o a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolhres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitam-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.

Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.

ALBERTO CAEIRO, 6 DE JULHO DE 1914


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