Há música. Tenho sono.
Tenho sono com sonhar.
'Stou num longínquo
abandono
Sem me sentir nem
pensar.
A música é pobre. Mas
Não será mais pobre a
vida?
Não importa que eu
durma. Faz
Sono sentir a descida...
Que inteligência há-de dar-se
Ao princípio da
absorção?
Há música. Antes
chorar-se
Sem que (...)
Aventura inexequível,
Congruência com não ser.
Meu coração no desnível,
Meu cansaço sem ceder.
Meu paraíso perdido!
Meu rebanho abandonado!
Vou no séquito abolido
Como um pajem exilado.
FERNANDO PESSOA, 25 DE
MARÇO DE 1928
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