AURORA SOBRE O MAR
DESCONHECIDO
Mãos brancas (meras mãos
sem corpo e sem braços)
Acariciando um negro
veludo...
Os olhos do guerreiro
vistos por cima do escudo
(Cartas de luto sobre
regaços)
E nunca desfraldado o
estandarte
De modo a ver-se que
cores e imagens tem...
Mãos sem lágrimas, mãos
que nunca seriam de mãe...
Ah, não ser eu toda a
gente e toda a parte!'
Dói púrpuras o silêncio,
e que lírios a hora!
E nos tabernáculos das
ocasiões um rito de timbres cobra
Os vitrais das passadas
desilusões...
Cessou no Oposto o ruído
de vagas batalhas
Ficou todo o espaço
sendo, com túmulos (brancos) a Hora,
Um suspirar de guizos,
com fimbrias de falhas...
Abrem-se de par em par
impossíveis portões
E desabrocha a ira nos
olhos de Artur
Dos vultos, na sombra,
de leões...
Mas os dias acontecem
oráculos neutros
E não há rituais,
Princesa, senão de imperfeições...
FERNANDO PESSOA, 22 DE
MARÇO DE 1914
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