Não tenho quinta
nenhuma.
Se a quero ter p'ra
sonhar,
Tenho que a extrair da
bruma
Do meu mole meditar.
E então, desfazendo a
névoa
Que há sempre dentro de
nós,
Progressivamente elevo-a
Até uma quinta a sós.
Vejo os tanques, vejo as
calhas
Por onde a água vai
pequena,
Vejo os caminhos com
falhas,
Vejo a eira erma e
serena.
E, contente deste nada
Que em mim mesmo faço
externo,
Gozo a frescura relvada
Da não-quinta em que me
interno.
Vilegiatura impossível,
Dou-lhe nós para
lembrar,
E esqueço-a ao primeiro
nível
Do meu mole meditar.
FERNANDO PESSOA, 30 DE
MARÇO DE 1931
Sem comentários:
Enviar um comentário