A luz do sol afaga o
imenso dia.
Um sopro brando, quase
não de inverno,
Sobriamente os campos
inebria.
Ah, mas o que há de
eterno?
Em que é que a alma sem
sonhar se fia?
Meu coração nada recebe
da hora
Salvo o vácuo de nada
receber.
Como criança abandonada,
chora,
Que não sabe o que quer,
Nem por onde ir, nem
porque se demora.
E alheio a isto, que sou
eu, que brando
O sol de inverno lembra
a primavera!
Que afago busca o que em
mim 'stá sonhando,
Que 'spera quem nada
'spera?
Que fica a quem sabe que
está passando?
FERNANDO PESSOA, 23 DE
JANEIRO DE 1925
Sem comentários:
Enviar um comentário