No entardecer da terra
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num
sono,
Na lívida solidão
Soergue as folhas, e
pousa
As folhas, e volve, e
revolve,
E esvai-se inda outra
vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.
Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei,
morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi, Quem dera
Volver a sê-lo!... Mais
frio
O vento vago voltou.
FERNANDO PESSOA, 28 DE
JANEIRO DE 1922
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