quarta-feira, 14 de setembro de 2011

FAZ HOJE 92 ANOS





À NOITE


O silêncio é teu gémeo no infinito.
Quem te conhece, sabe não buscar.
Morte visível, vens dessedentar
O vago mundo, o mundo estreito e aflito.


Se os teus abismos constelados fito,
Não sei quem sou nem qual o fim a dar
A tanta dor, a tanta ânsia par
Do sonho, e a tanto incerto em que medito.


Que vislumbre escondido de melhores
Dias ou horas no teu campo cabe?
Véu nupcial do fim de fins e dores.


Nem sei a angústia que vens consolar-me.
Deixa que eu durma, deixa que eu acabe
E que a luz nunca venha despertar-me.


FERNANDO PESSOA, 14 DE SETEMBRO DE 1919 

Sem comentários: