sábado, 24 de setembro de 2011
FAZ HOJE 88 ANOS
Ouço passar o vento na noite.
Sente-se no ar, e alto, o açoite
De não sei quem em não sei quê.
Tudo se ouve nada se vê.
Ah, tudo é símbolo e analogia.
O vento que passa, esta noite fria.
São outra cousa que a noite e o vento -
Sombras de Vida e de Pensamento.
Tudo nos narra o que nos não diz.
Não sei que drama a pensar desfiz
Que a noite e o vento narrando são.
Ouvi. Pensando-o, ouvi-o em vão.
Tudo é uníssono e semelhante.
O vento cessa, e noite adiante,
Começa o dia e ignorado existo.
Mas o que foi não é nada disto.
FERNANDO PESSOA, 24 DE SETEMBRO DE 1923
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