sábado, 28 de maio de 2011

FAZ HOJE 87 ANOS



Eu olho com saudade esse futuro
Em que serei mais novo que depois,
E essa saudade, com que me sinto dois,
Cerca-me como um mar ou como um muro.




Não descreio, nem creio, mas ignoro.
'Stou posto onde se cruzam as estradas,
Multiplicando definidos nadas,
E no meio do jogo, amuo e choro.




O presságio roeu os meus pensamentos.
Velei a esfinge com serapilheiras.
E os jardins dispostos em quincúncios




Dão sobre esteiras de mar morto e vago,
E um vapor de cordas, sem bandeiras,
Pára no tanque, que nos finge de lago.


FERNANDO PESSOA, 28 DE MAIO DE 1924

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