domingo, 22 de maio de 2011

FAZ HOJE 84 ANOS



DEPOIS DA FEIRA


Vão vagos pela estrada,
Cantando sem razão
A última esp'rança dada
À última ilusão.
Não significam nada,
Mimos e bobos são.


Vão juntos e diversos
Sob um luar de ver,
Em que sonhos imersos
Nem saberão dizer,
E cantam aqueles versos
Que lembram sem querer.


Pajens de um morto mito,
Tão líricos!,tão sós!,
Não têm na voz um grito,
Mal têm a própria voz;
E ignora-os o infinito
Que nos ignora a nós.


FERNANDO PESSOA, 22 DE MAIO DE 1927

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