Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei a alma digna
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Que a vida é cousa ao lado
Para quem pensa em ser.
Quando será meu fado
O fado que hei-de ter?
FERNANDO PESSOA, 13 DE MARÇO DE 1931
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