Os barcos passam no rio
E fazem-me chorar.
Não sei que quero, e há frio
No meu desejar.
Os barcos passam. As velas
São reais e tranquilas.
Minha dor é janelas
Sobre horas às filas.
Há realmente barcos
No rio exterior...
As pontes têm arcos
E isto faz-me dor.
Queria outra cousa
De acordo comigo.
Queria ser na alma
Como o vento ao trigo.
Há felicidade
Em ondear sem alma.
As paisagens tristes
Inda assim têm calma.
Só na minha dor.
Não há calma ou fim.
Sol tão exterior
À dor que há em mim!
FERNANDO PESSOA, 15 DE MARÇO DE 1915
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