quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

POEMA SEM DATA




Hela hoho, helahoho!
Desfilam diante de mim as civilizações guerreiras...
Numa manhã triunfal,
Numa longa linha como que pintada em minha alma ,
Sucessivamente, indeterminadamente,
Couraças, lanças, capacetes brilhando,
Escudos virados para mim,
Viseiras caídas, cotas de malha ,
Os prélios, as justas, os combates, as emboscadas.
Archeiros de Crecy e de Azincourt!
Armas de Arras?.

E tudo é uma poeira incerta, uma nuvem de gente anónima
Que o vento da estratégia levanta em formas divinas,
E em ondas sopra entre os meus olhos atentos
E o Sol da verdade eterna, e a encobre sinistramente.

Marcha triunfal, onde a um tempo e não a um tempo,
Onde numa simultaneidade por transparências uns de outros,
Surgem, aparecem, aglomeram-se em minha consciência,
Os guerreiros de todos os tempos, os soldados de todas as raças,
As couraças de todas as origens,
As armas brancas de todas as forjas,
As hostes compostas de usos marciais de todos os exércitos.

ÁLVARO DE CAMPOS, POEMA SEM DATA


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