É interior à minha mágoa
A alegria do dia claro...
Oh nudez trémula da água...
Por que me sinto eu desolado
De haver tanta calma e alegria
E nenhuma em meu ser cansado...
Acaso não me bastaria
Olhar a alegria da terra
E de ser alegre com o dia?
Ah, ensina-me, ó Natureza,
A dar minha alma inteiramente
À calma da tua beleza
A não ter alma salvo a hora
A pertencer-te, ampla alma rente
À nossa alma geradora
Qualquer cousa que não seja esta
Agonia do pensamento
Que é o que do meu ser me resta...
Sopra, sopra, sopra, vento...
Grande invisível alma em festa...
Que há entre mim e o momento?
FERNANDO PESSOA, 3 DE OUTUBRO DE
1915
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