Quem és tu, planta?
Teu vulto espanta
Meu olhar quedo
Que te olha em medo...
Quanto mais ponho
Em ti o olhar
E decomponho
Ver-te em pensar,
Mais me parece
Que o vulto teu
E um rosto
(...)
Tudo tem rosto
Tem tudo olhar...
Névoa-antegosto
Do decifrar!
Sobe em meu ser
Um medo a Deus...
Quero não ver
Os mudos céus...
Porque o seu claro
Azul sem fim
Com um olhar sem olhos
Olha para mim..
Paro em meu frio
Limiar da alma...
Como o arrepio
Que cerca a calma
Em que me cerco
De Deus e teu
E em mim me perco
Por todo o céu.
FERNANDO PESSOA, 2 DE OUTUBRO DE
1915
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