terça-feira, 24 de março de 2015

POEMA SEM DATA




CANÇÃO DE OUTONO

No entardecer da terra
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve, e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi
Quem dera
Volver a sê-lo!...Mais frio
O vento vago voltou.


FERNANDO PESSOA, POEMA SEM DATA


Sem comentários: