CANÇÃO DE OUTONO
No entardecer da terra
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num
sono,
Na lívida solidão.
Soergue as folhas, e
pousa
As folhas, e volve, e
revolve,
E esvai-se inda outra
vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.
Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei,
morri-o;
E até do que hoje sou
Amanhã direi
Quem
dera
Volver
a sê-lo!...Mais frio
O vento vago voltou.
FERNANDO PESSOA, POEMA
SEM DATA
Sem comentários:
Enviar um comentário