quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

POEMA SEM DATA




Pois bem, matou-se. Morreu-lhe a filha
Tísica, tudo foi-lhe acabar
O vaivém tirado, o seu sonho, a ilha,
E ela atirou-se do quarto andar.

Foi isso. Foi. Mas não estou tranquilo.
Meu coração tem um sobressalto.
Que foi aquilo? Que foi aquilo?
O que há naquilo que falho e falto?

Morreu-me pai, morreu-me a mãe,
Amei-os. Sim, mas neste momento
Não lembro nada, sinto-me bem.
Que grande pulha do sentimento!


FERNANDO PESSOA, POEMA SEM DATA


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