AUDITA CAECANT
Dormimos
o universo; a extensa mole
Da
confusão das cousas nos engana,
Sonhos;
e a ébria confluência humana
Prolixa
ecoa-se de prole em prole.
O
ouvido atento, que se às portas cole
Onde
suspeita deuses, só se ufana
Da pulsação
do sangue em si, que irmana
Seu
som com passos que a distância estiole.
Cegos
que um louco guia, atravessamos
A
inútil extensão do impossível,
Barulhando
ervas húmidas e ramos;
E a
um rumor longínquo e insensível,
De
que talvez, indo, nos afastamos,
Damos
o ouvido surdo e iludível.
FERNANDO PESSOA, POEMA SEM DATA
Sem comentários:
Enviar um comentário