Ah o som de abanar o ferro da
engomadeira
À janela ao lado da minha infância
debruçada!
O som de estarem lavando a roupa no
tanque!
Todas estas coisas são, de qualquer
modo,
Parte do que sou.
(Ó ama morta, que é do teu carinho
grisalho?)
Minha infância da altura da cara
pouco acima da mesa...
Minha mão gordinha pousada na borda
da toalha que se enrodilhava.
E eu olhava por cima do prato, nas
pontas dos pés.
(Hoje se me puser nas pontas dos
pés, é só intelectualmente.)
E a mesa que tenho não tem toalha,
nem quem lhe ponha toalha...
Estudei o fermento da falência
Na demonologia da imaginação...
ÁLVARO DE CAMPOS, POEMA SEM DATA
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