Cortei relações com o sol e as
estrelas, pus ponto no mundo.
Levei a mochila das coisas que sei
para o lado e p'ro fundo
Fiz a viagem, comprei o inútil,
achei o incerto,
E o meu coração é o mesmo que fui,
um céu e um deserto
Falhei no que fui, falhei no que
quis, falhei no que soube.
Não tenho já alma que a luz me
desperte ou a treva me roube,
Não sou senão náusea, não sou senão
cisma, não sou senão ânsia
Sou uma coisa que fica a uma grande
distância
E vou, só porque o meu ser é cómodo e
profundo,
Colado como um escarro a uma das
rodas do mundo.
ÁLVARO DE CAMPOS, 1 DE DEZEMBRO DE
1928
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