Para além do arvoredo
Vejo o campo se estender
Num ondular sem segredo
-
Ondular tão leve que
Tudo ali se pode ver.
Tão clara e perto parece
- Salvo que sem forma é
cor -
Como a que perto
aparece,
A flor que está longe e
se
Vê que é flor mas não
que flor.
E eu fico precisamente
Com esse contentamento
Que provém de estar contente
-
Não de ser feliz ou de
Gostar do campo ou do
vento.
Resumo: não tendo nada
Que fazer senão não ter
Nada que fazer, da
estrada
Vou vendo tudo isto que
Vou vendo até o não ver.
FERNANDO PESSOA, 5 DE
ABRIL DE 1931
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