quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

FAZ HOJE 84 ANOS



Vou com um passo como de ir parar 
Pela rua vazia 
Nem sinto como um mal ou mal-estar 
A vaga chuva fria...

Vou pela noite da indistinta rua 
Alheio a andar e a ser 
E a chuva alheia em minha face nua 
Orvalha de esquecer... 

Sim, tudo esqueço. Pela noite sou 
Noite também 
E vagaroso e (…) vou, 
Fantasma de ninguém. 

No vácuo que se forma de eu ser eu 
E da noite ser triste, 
Meu ser existe sem que seja meu 
E anónimo persiste... 

Qual é o instinto que fica esquecido 
Entre o passeio e a rua? 
Vou sob a chuva, anónimo e diluído, 
E tenho a face nua. 


FERNANDO PESSOA, 14 DE FEVEREIRO DE 1929

Sem comentários: