Vou com um passo como de ir parar
Pela rua vazia
Nem sinto como um mal
ou mal-estar
A vaga chuva fria...
Vou pela noite da
indistinta rua
Alheio a andar e a
ser
E a chuva alheia em
minha face nua
Orvalha de
esquecer...
Sim, tudo esqueço.
Pela noite sou
Noite também
E vagaroso e (…) vou,
Fantasma de ninguém.
No vácuo que se forma
de eu ser eu
E da noite ser
triste,
Meu ser existe sem
que seja meu
E anónimo persiste...
Qual é o instinto que
fica esquecido
Entre o passeio e a
rua?
Vou sob a chuva,
anónimo e diluído,
E tenho a face nua.
FERNANDO PESSOA, 14 DE
FEVEREIRO DE 1929
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