segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

FAZ HOJE 100 ANOS



A UM REVOLUCIONÁRIO MORTO


Ele aí jaz em plena paz. 
Já nada faz nem quer... 
Deixem que gele... Acabou p’ra ele já
O amor à pele e o amor da mulher.  

Combateu bem sem saber por quem 
Ou por quê, e aí têm... assim 
E ei-lo aí que dorme o tal sono enorme 
Que o fará disforme... E o fim do fim... 

Com cega ânsia bruta caiu na luta 
Não há vinho ou puta p’ra ele já 

Talvez que no violento último momento 
Ao cair (…)
Vivesse mais vida, mas toda vivida 

P’ra quê lamentá-lo? 

Talvez a vitória seja a morte, e a glória 
Seja ser só memória disso 
E talvez vencer seja mais morrer 
Que sobreviver... Que é a morte? É ocaso... 

A vida é só tê-la, vivê-la e perdê-la 
De morte vivê-la. Foi o que este fez.  
Num grito e num tiro, deu-lhe tudo um giro 
Lançou um suspiro e era uma vez... 

Nós que vamos pondo razões e cumprindo 
Causas e supondo (…)
Estamos mais no certo que esta besta 

E talvez o melhor... Seja lá o que for 
A vida voltou, ele é o que é... 
Lutemos sem ver da morte o mal que brada 
Lá a vida é nada. Tenhamos fé.
(…)  


FERNANDO PESSOA, 18 DE FEVEREIRO DE 1913

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