domingo, 6 de janeiro de 2013

FAZ HOJE 90 ANOS



Nada sou, nada posso, nada sigo.
Trago, por ilusão, meu ser comigo.
Não compreendo compreender, nem sei
Se hei-de ser, sendo nada, o que serei.

Fora disto, que é nada, sob o azul
Do largo céu um vento vão do sul
Acorda-me e estremece no verdor.
Ter razão, ter vitória, ter amor

Murcharam na haste morta da ilusão.
Sonhar é nada, e não saber é vão.
Dorme na sombra, incerto coração


FERNANDO PESSOA, 6 DE JANEIRO DE 1923

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