REVISTA “NOVA
ÁGUIA”
Correcção de
erros de facto
O
número 7 da revista de cultura, “Nova Águia” foi dedicado ao Fernando Pessoa.
No entanto esse preito de homenagem, - como assim se esperava -, transformou-se
numa deturpação de factos da vida do Poeta.
Chamada
a atenção da direcção da revista para esses erros lamentáveis, logo em Maio de
2011, por razões inexplicáveis, o assunto arrastou-se de tal modo que, seis
meses, depois, saiu o número 8 da revista sem que a direcção apresentasse nele
as desculpas que deve a todos os leitores e, muito especialmente aos
assinantes, pelos erros cometidos pelos colaboradores que ela escolheu (muito
mal!) para escreverem sobre o Fernando Pessoa, referindo, também, os erros, da
maneiro clara como eu lhos apresentei.
Foi-me
prometido que isso se farias, entretanto, no site da revista, mas até isso não
foi cumprido, dando a entender que a direcção da revista pretende esconder tais
erros, pouco lhe interessando a verdade dos factos.
Perante
este suceder de factos lamentáveis para com o Poeta da “Mensagem”, não tive
outra solução, para repor a verdade, do que usar este local, para o efeito.
De
seguida apresento o texto que enviei para a direcção da revista, que me parece,
por suficientemente claro, não necessitar de mais anotações.
NOVA
ÁGUIA – Nº 7 – 1º SEMESTRE 2011
ERROS
DE FACTO
1 – TRILEMA
TRIDENTIDO
De Carlos Manuel Pons Pinto Carreira
Pag. 15 linhas 13/15
“...a
Carlos Queirós (1907 –
1949) o irmão de Ofélia amada
de Fernando
Nogueira Pessoa (1888 -1935)…”
Correcção
: O Poeta Carlos Queirós era sobrinho da Ofélia, (Filho da irmã), namorada do Fernando
Pessoa.
Ver – “Cartas
de Amor de Fernando Pessoa”
Organização, prefácio e notas de David Mourão-Ferreira
Edição Ática
Pag. 8, 2º Parágrafo, e
“ Cartas de Amor de Ofélia a
Fernando Pessoa”,
Organização de Manuela Nogueira e Maria da
Conceição Azevedo, Edição
Assírio & Alvim,
Pag. 23, 3º parágrafo.
2 - FERNANDO
PESSOA: O SENTIMENTO LUSÓFONO NA SUA OBRA
De Nuno Sotto
Mayor Ferrão
-
1 Pag. 35, 3º Parágrafo
“… que o induziram a
encontrar-se com o grande ocultista
Alleister Crowley em Lisboa em Setembro de 1930….”
Correcção
: O Mágico inglês veio a Lisboa conhecer o Fernando
Pessoa por sua espontânea
vontade, perguntando, até, por carta que data conviria ao Fernando Pessoa.
Ver – “Encontro
Mágico seguido de Boca do Inferno”, Compilação e Considerações de Miguel Roza, Edição Assírio & Alvim,
Pag. 71, último parágrafo.
Ler a troca de correspondência entre os dois, que este livro contém.
-
2 Pag 35,1ª coluna, 2º Parágrafo
“ … tendo sido escrito ( A Mensagem)a pensar com o intuito de o
apresentar a um concurso de poesia com que venceu o “Prémio Antero de Quental”,por instigação de António Ferro…”( este parágrafo não está escrita em português!)
Correcção – O livro “Mensagem” foi escrita, pelo menos, durante 21 anos, sendo o
mais antigo poema, - D. Fernando,
Infante de Portugal -, datado de 1913 e publicada com o título original, - Gládio - na
revista Athena, em 1924. O poema “ O Mar
Português”, foi publicado no Nº 4 da revista
Contemporânea, em 1922. Por outro lado, o Poeta, datou, à mão, os poemas, no original da 1ª Edição do livro,
sendo o mais antigo, o referido atrás, - 21/7/1913 – e o mais recente, - “Os Colombos” – 2/4/1934
Ver
“Mensagem” Edição de Fernando Cabral Martins, Planeta D’Agostini, Pag.
94/95 e “Estranho Estrangeiro” de Robert
Brechon, pag. 399, 1º Parágrafo
-
3 Pag. 36, 1ª Coluna, 1º Parágrafo
“ Assim, embora Pessoa tenha publicado poucos livros em vida…”
Correcção – Fernando Pessoa publicou apenas um
livro em vida, – “MENSAGEM” –,
em 1 de Dezembro se 1934.
3 –CARTA
AO AMIGO POETA DESENCANTADO, SCRIB-DOR IMPENITENTE
De Abel António de Guimarães Coelho
- 1 Pag.63, 1ª coluna, 4º
Parágrafo
“ Sou dos que lamenta (m?) que você
tenha morrido apenas com 57 anos.”
Correcção – Fernando Pessoa nasceu em 13 de Junho de 1888 e faleceu em 30 de Novembro de 1935.
Com 47 anos, portanto.
- 2
Pag. 64, 2ª Coluna, 3º Parágrafo
“Modernamente chamar-lhes-íamos
clones. (…)Você não conhece este neologismo científico mas ele
existe e aplica-se a si.”
Correcção – Definição, segundo os dicionários:
CLONE é um conjunto de células
geneticamente idênticas que são todas descendentes de uma célula ancestral, podendo dar
origem a um grande número de organismos iguais
entre si.
Embora todos “descendentes de uma
célula ancestral”, os Heterónimos citados (Campos,
Caeiro, Reis e Soares), não são “geneticamente idênticos” e, muito
menos, “iguais entre si”.
Portanto, a palavra não “se aplica” aos Heterónimos do Fernando
Pessoa.
E não
é um neologismo, pois foi criada, em Inglaterra, há mais de um século.
- 3 Pag. 64, 2ª coluna, 4º Parágrafo
“O seu grande amigo João Gaspar
Simões, escreveu…”
Correcção – O João Gaspar Simões nunca foi um “grande amigo” do
Fernando Pessoa. Viu-o, vivo, uma vez, e como director da revista “Presença”, acompanhado de um outro
director, o José Régio, num encontro aprazado para um café da baixa lisboeta, -
Montanha -, já inexistente, num domingo de Junho de 1930.
Cinco
anos depois, assistiu ao funeral do Poeta. O resto são cartas, entre o Director
da “presença”, em Coimbra,
e o Poeta Fernando Pessoa, colaborador dessa revista, em Lisboa. Amigos, - o
Mário de Sá Carneiro, o Armando Corte Rodrigues e o Augusto Ferreira Gomes.
Ver
“Estranho Estrangeiro”, de Robert Brechon, pag 467, 2º parágrafo
- 4 Pag. 65, 2ª Coluna, Parágrafo 2º
“ Nas “Páginas de Doutrina Estética”, você
enumera três tipos de maus críticos.”
Correcção – “Páginas de
Doutrina Estética” é um livro, que foi editado pela “Ática” em 1964 (1ª
edição),
livro
esse que reúne diversos escritos do Fernando Pessoa, com selecção, prefácio e
notas de Jorge de
Sena. Dos milhares de
papéis que deixou na famosa arca, o Jorge de Sena escolheu uns tantos e
uma Empresa
editou essa sua selecção. Portanto, o Fernando Pessoa “enumera três tipos de
maus críticos”, num desses papéis, que por selecção de outrem, foi parar a um
livro, a que esse
outrem, o Jorge Sena, deu
um nome de “Páginas de Doutrina Estética”.
4 – O SER EM CONFLITO: ANÁLISE DAS OBRAS DE SÁ CARNEIRO E FERNANDO PESSOA
De Gabriel Viviani de Sousa
-
1 Pag. 85, 1ª Coluna, 1º
Parágrafo
“ Quando se lê (lêem ..?..)
certos versos de Pessoa, comparando-os
aos do colega, chega-se mesmo a imaginar que, caso se
atribuísse a autoria ao outro, até o
crítico especializado encontraria dificuldades de perceber o equívoco. Não pretendo
começar aqui o debate de quem teria sido influenciado por quem”
Correcção: O Mário de Sá Carneiro,
muito antes das suas “fugas” para Paris, publicou diversos livros de Contos e Novelas, - edições pagas
pelo Pai, que sempre sustentou a vida do Filho e até pagou a edição dos dois números do “Orpheo” que saíram.
Tentou o teatro, ainda no Liceu Passos Manual, mas sem continuidade. Sendo muito
importante a correspondência que durante quatro anos mantiveram, – lamentavelmente desaparecida
a mala do Sá Carneiro, que conteria as cartas que o Fernando Pessoa, lhe enviou, - a dúvida
levantada no artigo sobre análise, só se pode manter por quem nunca tenha lido as cartas escritas pelo Sá
Carneiro, - de que há diversas edições -,ou então as leu mal.
Com data de 3 de Maio de
1913, conta ao amigo que, “estava sentado
na terrasse dum Café no Bol. dos
Italianos (…) Pus-me a fazer bonecos num papel… e de súbito comecei a escrever
versos…” Manda os versos ao Pessoa, escrevendo: “Francamente, rudemente, diga-me você o que isso vale.”
O facto relatado e o expor-se ao juízo de um Poeta por quem ele
tinha uma enorme admiração, mostra quem é o Mestre e quem é o
Discípulo. Tinha nascido um grande Poeta? Sim; é um facto. Poeta, a princípio inseguro, pedindo
conselhos e críticas, chegando a pedir a opinião do Fernando Pessoa sobre qual das palavras, por que
hesitava, deveria optar. E aceitando sempre a opinião do Amigo.
Uma coisa será, avaliar a
dimensão do Poeta que nascera, outra fazer desse nascituro a origem da inspiração do Fernando
Pessoa. A carta acima referida é um facto: o prosador Sá Carneiro, numa tarde de melancolia, deu com
ele a escrever versos, - versos que ele colocou à apreciação do Fernando Pessoa, em termos que não
deixam dúvidas sobre “quem teria sido influenciado por quem”.
Ver – MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
– CORRESPONDÊNCIA COM FERNANDO PESSOA, Edição de Teresa Sobral da Costa, para o
Círculo dos Leitores, Volume I, Pág.87.
5 – CARLOS QUEIROZ: 62 ANOS APÓS O FALECIMENTO DE GRANDE POETA, AMIGO DE
FERNANDO
PESSOA
De José Lança-Coelho
- 1 – Pag. 139, 1ª Coluna, 2º Parágrafo
“Diga-se ainda que a sua irmã, Ofélia Queiroz,
foi, por duas vezes, a namorada do poeta dos heterónimos.”
Correcção – A Ofélia Queiroz era tia do Poeta Carlos Queiroz, –
filho da Irmã.
FERNANDO RANITO
9 DE JANEIRO DE
2012
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