domingo, 7 de agosto de 2011
FAZ HOJE 77 ANOS
Como criança, ou como condenado,
Livre de culpa ou cheio de pecado,
Dorme teu sono cansado.
Quem dorme, porque é nada e é ninguém,
E sua essência de dormente tem
Direito a qualquer bem.
Ao menos à renúncia e ao perdão
Que, ambos, vestígios ignorados são
De uma maior visão.
Quem dorme é inocente e volta a ser
O que em criança foi sem perceber -
O que sonha sem ter...
Dorme. Inda que te odiasse, nesta hora
Nada em mim odiaria, a pastora
As idas rezes chora...
Sim: há um monte para além de aqui
Onde um rebanho pasce, e ali, ali,
Esta vida sorri.
FERNANDO PESSOA, 7 DE AGOSTO DE 1934
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