segunda-feira, 6 de junho de 2011

FAZ HOJE 96 ANOS





Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
Amor, glória e riqueza.


Tirem, mas deixem-me
Deixem-me  apenas
A consciência lúcida e solene
Das cousas e dos seres.


Pouco me importa
Amor ou glória.
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.


Mas a concisa 
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.


Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é o palácio do universo
Sua riqueza a vida.


A sua glória 
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.


O resto passa
E teme a morte.
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.


Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o  orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.


RICARDO REIS, 6 DE JUNHO DE 1915



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