sábado, 4 de junho de 2011

FAZ HOJE 80 ANOS



OXFORDSHIRE




Quero o bem, e quero o mal, e afinal não quero nada.
Estou mal deitado sobre a direita, e mal deitado  sobre a esquerda
E mal deitado sobre consciência de existir.
Estou universalmente mal, metafisicamente mal,
Mas o pior é que me dói a cabeça.
Isso é mais grave que a significação do universo.


Uma vez, ao pé de Oxford, num passeio campestre,
Vi erguer-se, de uma curva da estrada, na distância próxima
A torre-velha de uma igreja acima de casas da aldeia ou vila.
Ficou-me fotográfico este acontecimento nulo
Como uma dobra transversal escangalhando o vinco das calças.
Agora vem a propósito...
Da estrada eu previa espiritualidade a essa torre de igreja
Que era a fé de todas as era, e a eficaz caridade.
Da vila, quando lá cheguei,a torre da igreja era a torre da igreja,
E, ainda por cima, estava ali.


É-se feliz na Austrália desde que  lá se não vá.


ÁLVARO DE CAMPOS, 4 DE JUNHO DE 1931

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