Todos nós temos uma ponte que
passar...
Reparamos às vezes que já a
passámos.
Aparta com as mãos levemente os
ramos
E sorri para mim, com o ver-me no
olhar...
Se nós nos inquietássemos muito,
estaria
Sempre a meio da ponte a pobre vida
que temos...
Do barco amarrado ao cais levaram os
remos
Senão a nossa dupla inconfidência
embarcaria...
Mas não vale a pena, nem merece
elogio, o tédio...
Embalamo-nos um ao outro, como se
valesse...
E a vida vive-se com que ter que
tomar um remédio.
FERNANDO PESSOA, 14 DE MARÇO DE 1915
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