Marinheiro-Monge
Desta mar profundo
Rema-me p'ra longe
De eu sentir o mundo.
Rema, e de teus braços
O angular potente
Que impele o barco apague os traços
Do meu sentir doente!
Chia a 'spuma e alveja
'Spuma é o mundo certo.
Como a água contra nós fresqueja
'Spelhando tão perto!
Marinheiro-Monge
Deste mar de além,
Leva-me p'ra longe
De se qu'rer um bem!
Como pesa a vida
Se ela nos não fôr
Mais indefinida
Do que peso e dor!
Rema, e olha-me mudo,
Vendo sem visão,
Quero sentir tudo
Sem ter coração!
Marinheiro-Monge
Deste mar sem fim,
Rema p'ra longe
Do que sou p'ra mim!
FERNANDO PESSOA, 27 DE NOVEMBRO DE
1924
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