quinta-feira, 13 de agosto de 2015

FAZ HOJE 94 ANOS




Ó curva do horizonte, quem te passa,
Passa da vista, vão de ser ou estar.
Seta, que o peito enorme me transpassa.
Não doas, que morrer é continuar.

Não vejo mais esse a quem quis. A taça,
De ouro, não se partiu. Caída ao mar
Sumiu-se, mas no fundo é a mesma graça
Oculta para nós, mas sem mudar.

Ó curva do horizonte, eu me aproximo,
Para quem deixo, um dia cessarei
Da vista do último no último cimo,

Mas para mim o mesmo eterno irei
Na curva, até que o tempo a espera
E aonde estive um dia voltarei.

FERNANDO PESSOA, 13 DE AGOSTO DE 1921


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