De tanto me fingir quem sou deveras,
Já desconheço quem deveras sou.
Trago, talvez, destas longínquas
eras,
Não quem eu sou, mas só para onde
vou...
E assim, inevitável e mesquinho,
Fiel a um ritmo cuja lei ignoro,
De mim sei só qual é o meu caminho
E que na estrada, de cansado, choro.
Pobre de tudo, salvo de ir seguindo,
Tenho contudo uma esperança ainda:
É que Deus dê, a quem, assim, vai
indo,
Uma estrada que nunca seja finda...
FERNANDO PESSOA, 10 DE AGOSTO DE
1934
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