segunda-feira, 10 de agosto de 2015

FAZ HOJE 81 ANOS




De tanto me fingir quem sou deveras,
Já desconheço quem deveras sou.
Trago, talvez, destas longínquas eras,
Não quem eu sou, mas só para onde vou...

E assim, inevitável e mesquinho,
Fiel a um ritmo cuja lei ignoro,
De mim sei só qual é o meu caminho
E que na estrada, de cansado, choro.

Pobre de tudo, salvo de ir seguindo,
Tenho contudo uma esperança ainda:
É que Deus dê, a quem, assim, vai indo,
Uma estrada que nunca seja finda...


FERNANDO PESSOA, 10 DE AGOSTO DE 1934


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