No sono antes do sono,
No sonho sem sonhar,
Passam em abandono
Sombras, formas sem dono,
Que surgem a acabar.
É um mito do interlúdio
Que há entre a vida e a vida.
Meu mal sonhar ilude-o.
Minha dor esquecida
Não sabe quem a olvida.
E, assim, entre entre e entre,
Dos sonhos que vou tendo,
Como um japão excentre,
Abro a sorrir o ventre,
E morro, o ventre vendo.
FERNANDO PESSOA, 30 DE AGOSTO DE
1933
Sem comentários:
Enviar um comentário