Como às vezes num dia calmo e manso
No claro verde da planície calma
Duma súbita nuvem o avanço
Palidamente as relvas enegrece
Assim agora em minha pávida alma
Que súbito se evola e arrefece
A memória dos mortos aparece...
Ah quantos longe, e de que modo
longe?
Não há (...) nem emoção
Que a esse sentimento (...)
Um pavor que não sei se é meu se não
Me ocupa de repente o coração.
Quantos sorrisos, se eu agora os
lembro,
Me parecem um sonho e um devaneio,
Ou me parece este arrepio negro
E que eu sinto abandonado e frio
O sonho, a vida de que (...)
descreio.
Não sei em que não crer, se no (...)
Se no invisível abismo que (...)
Pensar que uma alma certa e
anunciadora,
O sentido de um corpo e de um olhar,
Não sei que abismo de não dito agora,
Não sei que espaço incógnito
interpor
Entre ela e o próprio corpo que
(...)
Entre ela e mim que a busco sem a
achar...
Ó pavor de haver morte! Negra
FERNANDO PESSOA, 10 DE NOVEMBRO DE
1925
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