Não fales alto que isto aqui é vida
-
Vida e consciência dela,
Porque a noite avança, estou
cansado, não durmo,
E, se chego à janela
Vejo, de sob as pálpebras da besta,
os muitos lugares das estrelas...
Cansei o dia com esperanças de dormir
de noite,
É noite quase outro dia. Tenho sono.
Não durmo.
Sinto-me toda a humanidade através
do cansaço -
Um cansaço que quase me faz carne os
ossos...
Somos todos aquilo...
Bamboleamos, moscas, com asas
presas,
No mundo, teia de aranha sobre o
abismo.
ÁLVARO DE CAMPOS, 21 DE OUTUBRO DE
1931
Sem comentários:
Enviar um comentário