No poço que há no fim do mundo
Vão as crianças procurar
Tirar desse poço sem fundo
A água que se não pode achar.
E uma após outra o balde deita
Preso por uma corda fina
E nada sai, e tudo espreita,
E a humanidade é pequenina.
No mundo que há aqui na vida,
Do poço que há onde há haver,
Sai água, sem grande descida,
E todos podem água ter.
Mas eu, que a vida sinto má,
Acho, em meu sentimento fundo
Que mais vale a água que não há
No poço que há no fim do mundo.
FERNANDO PESSOA, 24 DE AGOSTO DE 1934
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