Os ranchos das raparigas
Vão pela estrada a cantar.
Cantam cantigas antigas,
Daquelas que, de as lembrar,
Fazem a gente chorar.
Cantam porque outras cantaram...
Cantam por cantar somente.
E o canto que recordaram,
Cantando-o constantemente,
É sempre velho e presente.
Há qualqaer cousa de eterno -
A alegria, a vida, elas -
Que vem no tom alto e terno
Que faz chegar às janelas
Dos que não cantam - aquelas
Que, na penumbra do amor,
Ou esperado ou prometido,
Sentem sua voz de dor
Vinda naquele sentido
Que ali é gritado e rido.
Porque esse canto que passou,
Sem querer, vem figurar
A grande e humana desgraça
Que é amar ou não amar -
A mesma, sem acabar...
FERNANDO PESSOA, 18 DE AGOSTO DE 1934
Sem comentários:
Enviar um comentário