quinta-feira, 26 de junho de 2014

FAZ HOJE 85 ANOS




O som do relógio
Tem a alma por fora,
É o pulso do ‘spço
Avisa e ignora.

Não sei que distância
Vai de som a som
Na fiel rssonâcia
Do ritmo bom.

Mas oiço de noite
A sua presença
Sem ter onde acoite
Meu ser sem ser.

É o tempo parado
Falando a passar
Tardando, tardando
Tentado tardar
Tanta tentativa
De tudo (…)

Na noite perdida
No meio do nada
Ten voz tão crescida
Que fala (…)


Parece dizer
Sempre a mesma coisa
Como o que se sente
E se não repousa.

FERNANDO PESSOA, 26 DE JUNHO DE 1929


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