SONHO
Ó naus felizes que do
mar vago
Voltais enfim ao
silêncio do porto
Quando é na tarde a
tarde irreal,
Meu coração é um morto
lago
E à margem triste do
lago morto
Sonha um castelo
medieval.
E nesse onde sonha
castelo triste
Nem sonha saber, a de
mãos formosas
Sem gesto ou cor, triste
castelã
Que um porto além
rumoroso existe
De onde as naus negras e
silenciosas
Se partem antes de ser
manhã.
Nem sequer pensa que há
o onde sonha
Castelo triste; seu
esp'rito monge
Para nada externo é vivo
e real;
E enquanto ela assim
esquecida vagueia tristonha
Regressam tristes do mar
ao longe
As naus ao porto
medieval.
FERNANDO PESSOA, 10 DE
JUNHO DE 1910
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