Na erva brincam meninos.
Cobrem a erva a
sorrir.
Mais tarde, ao som
leve de sinos,
Já não há-de haver
meninos
E a erva é que os
há-de cobrir.
Na brisa ligeira os
vestidos
Das senhoras a
brincar.
Mas, vindo os fados
temidos,
Hão-de vestir, sem
sentidos,
O solo onde hão-de
enterrar.
Na brisa rodam os
risos.
São risos de quem
existe.
Mas nos seus tempos
precisos
Hão-de dormir todos
lisos
No mesmo chão verde e
triste.
E tudo isso, que faz
pena
Afinal só finge ser.
Não creias na erva
serena
Nem na má terra
morena.
Não chores. Não há
morrer.
Todos os meninos
ledos
E as senhoras a
brincar
São para os deuses
brinquedos.
Fazem-nos morrer por
medos.
Durmam bem, que
hão-de acordar.
FERNANDO PESSOA, 26 DE DEZEMBRO DE 1932
Sem comentários:
Enviar um comentário